terça-feira, 13 de novembro de 2012

A dicotomia das cotas: inclusão ou exclusão?

Recentemente, o senado brasileiro aprovou uma lei que reserva metade das vagas em universidades federais para candidatos que fizeram todo o ensino médio em escolas públicas. Sendo a distribuição dessas dependentes de critérios econômicos e raciais. Se a lei for aprovada pelo poder executivo,as direções das universidades deverão acatá-la, sem sequer direito à argumentação. A educação brasileira, e em particular a educação pública, historicamente, deixa a desejar. Há mais de três meses, o país está sendo assolado por greves, em quase todas as universidades federais, decorrentes de anos de descaso com a qualidade de ensino e com as condições de trabalho impostas aos professores.
Embora haja o argumento de que o sistema de cotas é necessário graças à dívida histórica que o Brasil tem com relação à política escravocrata que se estendeu até o fim do século XIX, a democratização da educação superior no Brasil através das cotas não repara as injustiças cometidas no passado. O sistema de cotas então, entra em vigor não como uma medida provisória paralela a modificações e planejamentos para a melhoria da educação, mas sim como ferramenta que apenas facilita o ingresso em uma universidade sem, no entanto, medir possíveis consequências.
O fato de um aluno ser proveniente de uma instituição pública de ensino não significa que ele seja incapaz de acompanhar o ritmo de ensino de uma faculdade federal. No entanto, o estado deplorável das escolas públicas de nosso país não pode e nem deve ser usado como argumento para o ingresso de alguém na universidade. Inquestionavelmente, um ensino forte gera alunos mais preparados, e é por isso que as mudanças têm que ser feitas já da base; caso contrário, os alunos encontrarão dificuldades no ensino fundamental, consequentemente no ensino médio e, obviamente, no ensino superior.
Biologicamente falando não existem raças entre os seres humanos, etnia e condição financeira teoricamente não deveriam diferenciar ninguém. Na prática, contudo, são esses dois fatores que muitas vezes indicam a forma como pessoas de diferentes esferas sociais têm contato com a educação de qualidade. As cotas não ajudam nesse sentido, já que é garantido, em Constituição, o direito à educação pública de qualidade a todo cidadão brasileiro. O sistema de cotas, diferentemente do que se argumenta, é apenas mais uma ferramenta de segregação racial e social. Se o problema é uma dívida histórica, por que não a criação de uma cota para as mulheres também, que até a década de 1870 no Brasil eram proibidas de cursar a universidade?
Disfarçar a ineficácia do sistema de ensino público se utilizando da distorção do pensamento de inclusão social é manter a hipocrisia de que todos são tratados igualmente em nosso país. É tentar resolver um problema criando outro. É uma maquiagem bonita para enganar, quem se deixa ser enganado. A questão não deve ser o tratamento desigual aos desiguais, mas sim condições iguais para que os desiguais possam competir de modo mais leal.

Veja  mais em: http://sociedaderacionalista.org/2012/10/30/a-dicotomia-das-cotas-inclusao-ou-exclusao/

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